Em uma audiência marcada por emoção,
contundência histórica e apelo à justiça, representantes do município de
Canudos apresentaram nesta quinta-feira (2) um pedido formal à Justiça Federal
para a implementação de um Plano de Reparação Integral pelas violações
cometidas contra a comunidade canudense desde o fim do século XIX.
A sustentação oral, realizada por um
grupo de advogados baianos, evocou episódios dramáticos da Guerra de Canudos
(1896–1897), destacando o massacre de cerca de 25 mil civis — incluindo
mulheres, crianças e idosos — e a destruição completa do arraial de Belo Monte.
A fala foi pontuada por citações de Euclides da Cunha, César Zama e Rui
Barbosa, que denunciaram à época a brutalidade das ações militares da República
recém-instaurada.
📜 "Não havia crime. Não havia
processo. E mesmo assim, a União destruiu tudo."
A sustentação também abordou o que foi
chamado de “segunda violência”: a submersão do sítio histórico pelo Açude de
Cocorobó, décadas depois, apagando vestígios materiais, impedindo o luto e
dificultando a identificação das vítimas. Segundo o advogado Leonardo Santa Rosa, essa ação do
Estado brasileiro perpetua a violação até os dias atuais. "Canudos quer virar a página da história com justiça e desenvolvimento", destacou o advogado Leonardo Santa Rosa em conversa com a redação do Portal GMC Mais.
📉 Impactos Estruturais Persistem
O município argumenta que os efeitos da
destruição são mensuráveis e continuam a afetar a região:
- A
população atual de Canudos é inferior ao número de vítimas da guerra.
- Estimativas
apontam perdas econômicas de centenas de milhões de reais por ano em PIB
não realizado.
- A
comunidade ainda carece de políticas públicas voltadas à memória, educação
e inclusão.
⚖️ Pedidos à Justiça
Entre os principais pedidos estão:
- Reconhecimento
da responsabilidade civil objetiva da União.
- Indenização
por dano moral coletivo, com reversão para projetos culturais e
educacionais.
- Criação
de uma Comissão Especial mista (União-Município) para levantamento de
danos e elaboração do Plano.
- Implementação
de três eixos programáticos: Memória, Educação e Turismo.
📚 Plano de Reparação: Cultura,
Educação e Desenvolvimento
O Plano proposto inclui a criação de um
Memorial-Museu, roteiros de memória, acervos digitais, cotas acadêmicas para
descendentes, bolsas de permanência e projetos turísticos integrados que
valorizem o patrimônio histórico e ambiental da região.
🗣️ "Canudos é ferida aberta na
história da República. O dever de reparar não se esgota no passado: prolonga-se
no presente e projeta-se no futuro."
A audiência foi encerrada com um apelo
direto ao juiz: que transforme o Direito em instrumento de justiça restaurativa
coletiva, reconhecendo que violações históricas não prescrevem quando continuam
a produzir efeitos.
A decisão judicial é aguardada com
expectativa por toda a comunidade, que vê na reparação não apenas um gesto
simbólico, mas uma oportunidade concreta de reconstrução e dignidade.
Com informações, Carlino Souza / Foto: Grupo Montes Claros de Comunicação.