Em um vídeo divulgado este mês, a modelo e influenciadora
Gracyanne Barbosa mostrava uma tatuagem nas costas. Os comentários, contudo, se
dividiam entre elogios ao corpo da moça e questionamentos: ter o ‘bumbum
empinado’ poderia trazer algum tipo de risco à coluna? "O bumbum na nuca
real", diz uma mulher a Gracyanne, nas imagens.
Em uma sociedade que valoriza tanto a
aparência dos glúteos e em meio à comemoração do Dia Mundial da Coluna, na
última quinta-feira (16), o caso de Gracyanne levantou o debate sobre a saúde
nas redes sociais. "E essa lordose?", escreveu uma usuária, em uma
postagem com mais de 200 likes. "Antes de ler a matéria, achei que fosse
um caso de erro médico". postou outra.
A lordose, na verdade, é a curvatura
natural da coluna. Um aumento anormal da angulação da coluna, por outro lado,
seria a hiperlordose. Ela pode ocorrer em dois locais: a cervical (quando o
pescoço fica mais inclinado para a frente) e a lombar, que é quando a região
pélvica fica mais para trás. No caso dessa última, é quando a angulação fica
maior do que 60 graus.
"Alguns pacientes têm sido
avaliados com um aumento importante da lordose lombar devido à busca por um
‘bumbum perfeito’, com uma proeminência dos glúteos e uma saliência da
barriga", diz o médico ortopedista Djalma Amorim Jr., especialista em coluna
e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da
Sociedade Brasileira de Coluna (SBC). "Essas pessoas não imaginam que essa
busca pode ocasionar um desequilíbrio do alinhamento sagital da coluna
vertebral com uma lombalgia intensa e podem apresentar outros sintomas como
dores de cabeça e nos membros".
É comum que os profissionais de saúde se
depararem com pacientes que forçam a coluna para parecer ter o ‘bumbum na
nuca’, como explica a fisioterapeuta dermatofuncional e fundadora da Clínica
Slim, Jamile Miranda. De acordo com ela, a inclinação da pelve para frente
projeta o glúteo, mas à custa da coluna lombar. Com o tempo, pode gerar dor,
rigidez e até hérnias.
Tonificar e fortalecer os glúteos com
acompanhamento e técnica adequada não seria um problema. Pelo contrário: eles
podem ajudar a dar estabilidade à região pélvica e contribuir para o
alinhamento postural. "O problema surge quando há desequilíbrio muscular,
ou seja, quando o foco é só em ‘crescer o bumbum’ e se esquece do
fortalecimento do core (abdome e lombar). Isso pode gerar compensações e
aumentar a curvatura lombar, dando a impressão de ‘lordose acentuada",
afirma.
Adquirido
Há quem acredite que a curvatura
inadequada é algo de nascença, mas o médico ortopedista Rodrigo Matos,
professor do Idomed (Instituto de Educação Médica) de Alagoinhas, explica que
não é bem assim. Comportamentos adquiridos podem levar a essa angulação maior.
"Se a pessoa fica muito curvada, se
tem fraqueza na musculatura abdominal ou também se a pessoa tem obesidade,
todas essas são condições associadas à hiperlordose", explica.
Ele também reforça que a curvatura mais
inclinada da coluna vai contribuir para o ‘bumbum empinado’. "A aparência
vem não apenas da musculatura glútea. Muita gente acha que é só ir para a
academia e fazer muita musculação, mas essa inclinação da pelve para a frente
faz isso", acrescenta. Mulheres já costumam ter uma lordose um pouco
maior, de acordo com Matos. "É fisiológico, porque ajuda na adaptação da
pelve durante a gestação".
A hiperlordose lombar pode provocar
também sensação de cansaço, peso e até desequilíbrio. Alguns pacientes sentem
dor até por passar muito tempo em pé.
Há, ainda, outra condição que poderia
afetar o ‘bumbum empinado’. Segundo o médico ortopedista Eduardo Henrique
Matos, professor do curso de Medicina da Unifacs, existe alguma possibilidade
de haver uma condição na bacia. Mas não há risco de isso acontecer por conta
dos músculos. "A hipertrofia muscular muito dificilmente modifica o eixo
na coluna. O glúteo também não pega na coluna. Ele é todo na região da
bacia".
Em geral, ele destaca que quem trabalha
a hipertrofia lombar também trabalha o músculo do abdome. "São duas
musculaturas antagônicas. Você não vê uma pessoa com uma musculatura lombar
extremamente potente que seja barriguda, porque é compensatório". Outro
tipo de hiperlordose comum em mulheres é a gravídica, que ocorre durante a
gestação. Nesse caso, o centro de gravidade envolve a barriga e a gestante
precisa mudar a postura.
Um caso como o da modelo Gracyanne
Barbosa, contudo, pode envolver procedimentos como preenchimento dos glúteos
acima da linha da lordose lombar. Isso gera a impressão de uma curvatura mais
acentuada. "Você tira a gordura do espaço normal e aplica um PMMA, que é o
polímero sintético usado para fazer esse preenchimento. Então você remove o
tecido que é normal para aplicar um tecido que não é do padrão do organismo. O que pode acontecer? Você pode distender tanto
a pele que pode fazer abscesso. Pode fazer celulite ou rachadura na pele".
É possível, contudo, ter um ‘bumbum na
nuca’ sem sobrecarregar a coluna. Segundo a fisioterapeuta dermatofuncional
Jamile Miranda, da Clínica Slim, o caminho é o equilíbrio entre alimentação e
tratamentos complementares. Entre os exercícios físicos mais indicados estão
agachamentos, avanços, stiff e ponte de glúteo. Ela cita, ainda, tratamentos
estéticos como tecnologias como eletroshape, que é uma eletroestimulação para
potencializar resultados.
"O bumbum ideal é o saudável. É aquele que te traz autoestima, força e bem-estar, e não dor ou sobrecarga. O verdadeiro diferencial está em cuidar do corpo com consciência, respeitando seus limites e valorizando sua individualidade. Beleza e saúde precisam caminhar juntas", diz.