No Brasil, a morte súbita é responsável
por um número alarmante de óbitos por ano. Estimativas de entidades
cardiológicas como a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) apontam
que entre 120 mil e 320 mil brasileiros morrem anualmente por arritmias
cardíacas que levam à parada cardiorrespiratória.
Isso significa uma morte súbita a cada
dois minutos. Embora mais frequente em adultos acima dos 35 anos, casos
envolvendo jovens e atletas têm acendido um alerta nacional. O questionamento
que surge abrange se a possibilidade de se prevenir.
A morte súbita é definida como a perda
abrupta da circulação sanguínea, geralmente causada por uma arritmia grave que
impede o coração de bombear sangue.
Ela ocorre de forma inesperada, muitas
vezes em pessoas aparentemente saudáveis, e em 72% dos casos acontece dentro de
casa, antes de qualquer atendimento emergencial. Por isso, especialistas
reforçam que a rapidez no socorro é determinante para salvar vidas.
A morte súbita pode atingir qualquer
pessoa, mas alguns grupos apresentam risco maior. Homens são mais
frequentemente afetados, e há duas faixas etárias críticas: até os seis anos e
acima dos 35 anos.
Em jovens abaixo dos 30 anos e atletas,
os casos geralmente estão associados a doenças cardíacas genéticas, como a
cardiomiopatia hipertrófica, que afeta cerca de 500 mil brasileiros.
A cardiomiopatia hipertrófica pode ser
identificada por meio de alterações no eletrocardiograma e no exame clínico, já
que costuma gerar um sopro cardíaco característico. Exames como ecocardiograma
e ressonância magnética confirmam o diagnóstico.
Após essa etapa, é necessário avaliar o
risco de morte súbita, principalmente em pacientes com menos de 40 anos, faixa
etária em que a chance é maior. Para isso, médicos consideram fatores como
sintomas, estrutura cardíaca e resposta a tratamentos, seguindo algoritmos que
orientam se o paciente deve receber medicamentos, cirurgia ou até um
desfibrilador implantável.
Segundo o cardiologista Fabio Fernandes,
trata-se de uma doença frequente, porém subdiagnosticada. "É comum que o
primeiro sintoma seja a parada cardíaca. Por isso, a detecção precoce é
essencial", afirma em publicação da Agência Einstein.
Já entre adultos sedentários,
tabagistas, hipertensos ou com colesterol elevado, a causa mais comum é o
infarto agudo do miocárdio seguido de arritmias fatais. Para pessoas que já
sofreram infarto ou possuem histórico familiar de morte súbita, o risco é ainda
maior.
Pesquisadores como Fernando Cannavan e
colegas, em estudo sobre estratificação de risco em atletas, ressaltam que
avaliações clínicas e exames cardíacos devem ser rotina antes do início de
treinos intensos.
Em caso de desmaio súbito, a ação rápida
é decisiva para salvar vidas. A orientação é ligar imediatamente para o SAMU
(192) e verificar se a pessoa está respirando. Se a respiração estiver ausente
ou irregular, é necessário iniciar a Reanimação Cardiopulmonar (RCP) sem
esperar a chegada da ambulância. Caso haja um Desfibrilador Externo Automático
(DEA) disponível, ele deve ser utilizado seguindo as instruções de voz do
próprio aparelho.
Especialistas reforçam que nenhum
suplemento, treino intenso ou boa forma física substitui o acompanhamento
cardiológico. Em academias, clubes esportivos e modalidades de alta
intensidade, a avaliação pré-participação deveria ser uma regra adotada de forma
sistemática, garantindo segurança para praticantes iniciantes e atletas
experientes.
Sinais e importância do diagnóstico
precoce para evitar morte súbita
Apesar de, em muitos casos, ocorrer de
forma inesperada, a morte súbita pode apresentar sinais de alerta nas horas ou
dias anteriores. Entre os sintomas mais comuns estão palpitações ou sensação de
batimentos acelerados e irregulares, além de dor ou pressão no peito.
A pessoa também pode sentir falta de ar
repentina, mesmo em repouso, e episódios de desmaio ou quase desmaio,
acompanhados de sudorese fria e tontura. Esses sinais, quando ignorados, podem
evoluir rapidamente para um quadro grave, o que reforça a importância de
procurar atendimento médico imediato diante de qualquer uma dessas
manifestações.
Mesmo sintomas considerados "simples",
como cansaço inexplicável durante atividade física, podem representar risco.
Segundo a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC), 2 milhões de
brasileiros convivem com fibrilação atrial, a arritmia mais comum no país e que
pode levar à morte súbita se não tratada.
Para ampliar o conhecimento da
população, entidades médicas realizam todo ano, em 12 de novembro, o Dia
Nacional de Prevenção das Arritmias Cardíacas e da Morte Súbita. A campanha
orienta sobre sintomas, importância do diagnóstico e tratamento, com o lema:
"Não deixe seu coração sair do ritmo."
Além disso, o treinamento da população
em suporte básico de vida pode salvar milhares de vidas. Estudos mostram que
quando a reanimação cardiopulmonar (RCP) é iniciada nos primeiros sete minutos
após a parada cardíaca, mais da metade das vítimas podem sobreviver. O uso do
desfibrilador externo automático (DEA), disponível em shoppings, aeroportos e
academias, também aumenta significativamente a chance de reversão.
A prevenção da morte súbita começa com a
realização de exames regulares, sobretudo para pessoas que apresentam fatores
de risco, como histórico familiar de morte súbita, pressão alta, colesterol
elevado, diabetes, tabagismo, sedentarismo ou o uso frequente de bebidas
alcoólicas e energéticos.
Esses elementos aumentam a sobrecarga
cardiovascular e favorecem o surgimento de arritmias e outras doenças cardíacas
silenciosas. Por isso, o monitoramento médico contínuo é essencial.
Entre os exames recomendados estão o
eletrocardiograma (ECG) e o ecocardiograma, considerados simples, acessíveis e
fundamentais para detectar alterações elétricas ou estruturais no coração. Em situações específicas ou quando há suspeita de origem genética, testes
genéticos também podem ser indicados, ajudando na identificação de
predisposições hereditárias.
Além dos exames, medidas preventivas são
determinantes para reduzir riscos: manter uma alimentação equilibrada, praticar
exercícios com orientação profissional, evitar tabaco, reduzir o consumo de
álcool, dormir adequadamente, controlar o estresse e realizar consultas
cardiológicas anuais. A morte súbita pode acontecer de forma silenciosa e
inesperada, mas não é inevitável.


