Correligionários do presidente do União
Brasil, Antônio de Rueda, presenciaram uma conversa telefônica do dirigente
partidário sobre a aquisição de jatinhos. Questionado por eles, Rueda disse que
já tinha cinco aeronaves e queria chegar a dez.
Segundo Rueda explicou aos
interlocutores na ocasião, cada uma das aeronaves rendia R$ 500 mil mensais por
meio da exploração de serviços de táxi aéreo.
Como antecipou a coluna, a Polícia Federal (PF) investiga se
Rueda seria o verdadeiro dono de jatinhos operados pela empresa
Transportes Aéreos Piracicaba (TAP).
O diálogo relatado à coluna é mais um
indício de que o presidente do União Brasil seria o verdadeiro dono de
aeronaves que, formalmente, não estão em seu nome.
No papel, o mandatário do União Brasil
não é proprietário de nenhum jatinho. À reportagem, ele negou ser dono de
aeronaves ou ter qualquer envolvimento com os investigados na Carbono Oculto.
A conversa aconteceu a bordo de uma
caminhonete Triton L200, da Mitsubishi, em Rio Branco (AC), logo depois de um
almoço de trabalho, no final do primeiro semestre de 2021.
Rueda estava no banco do carona, e o
então presidente do PSL no Acre, Pedro Valério, dirigia. O ex-deputado federal
Júnior Bozzella (União-SP) estava no banco de trás.
“Ele veio aqui para a gente apresentar a
chapa de deputados federais que a gente tinha montado (para a eleição de
2022)”, relatou Pedro Valério.
“Na volta do almoço, o Rueda recebeu uma ligação de alguém, e eu não sei o nome da pessoa, e a pessoa estava querendo saber dele como é que fazia o cálculo para poder pagar… o valor relativo a um jatinho”, prosseguiu.
“Aí o Bozzella perguntou pra ele: ‘Tá comprando outro jatinho?’. Ele falou: ‘Tô. Eu tenho cinco, quero chegar a dez’. Aí o Bozzella perguntou: ‘Mas é um investimento tão bom assim?’. Ele falou: ‘Cada jatinho desse deixa quinhentos paus por mês. Eu quero ter dez’.”
“Inclusive ele estava voando num jatinho
desses que era dele. Ele voava no jatinho dele, mas quem pagava as horas de voo
era o PSL. Era um negócio da China para ele. O avião dele alugado para o
próprio partido”, diz Pedro Valério.
A coluna apurou que o interlocutor de
Rueda ao telefone era o ex-vereador de São Paulo (SP) Milton Leite (União
Brasil).
Leite disse ao Metrópoles que “não tem
nenhum negócio financeiro com Rueda”. “Nada de negócio privado com ele. Só
tenho assuntos partidários. Ele tem meu respeito”, afirmou Leite.
Procurado, o deputado Junior Bozzella
disse que se recorda da conversa, mas que não iria comentar a respeito porque
deixou o União Brasil e não tem mais contato com Rueda; além de estar em outro
momento de sua vida política.
Investigações sobre Rueda estão na
Operação Tank
As quatro aeronaves que pertenceriam a Rueda foram comercializadas por cerca de R$ 60,4 milhões, segundo mostram os documentos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Duas das aeronaves estão relacionadas a
uma mesma pessoa: o contador Bruno Ferreira Vicente de Queiroz, 37 anos,
natural de Fortaleza (CE) e atualmente residente em São Paulo. Ele é filho do
executivo José Ubiratan Ferreira de Queiroz, que trabalhou na empresa Galvão
Engenharia, do empresário Dario Galvão, investigado na Lava Jato.
Formalmente, as apurações sobre Rueda
fazem parte da Operação Tank, deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com a
Carbono Oculto, e são conduzidas em Brasília.
Por enquanto, a única menção ao nome de
Antônio Rueda nas investigações da Operação Tank é o depoimento do piloto Mauro
Caputti Mattosinho, que trabalhou na TAP.
Porém, outros fatos relacionados à
atuação do dirigente partidário estão sendo levantados, e a corporação não
descarta abrir uma investigação específica sobre ele, caso surjam novos
indícios que a justifiquem.
Saiba mais sobre cada uma das aeronaves
atribuídas a Rueda
Raytheon R390 (PR-JRR)
Segundo registros da Anac, pertence à
empresa Fenix Participações, que tem entre seus sócios o advogado Caio Vieira
Rocha, filho do ex-ministro do STJ César Asfor Rocha; o ex-senador e presidente
do Republicanos no Ceará, Chiquinho Feitosa; e um empresário do setor
automotivo em Pernambuco.
A aeronave foi comprada do empresário do
ramo imobiliário José Ricardo Rezek por cerca de R$ 13 milhões em outubro
passado. Segundo Mattosinho, Rueda seria sócio desse avião.
Cessna 560 XL (PR-LPG)
Com 12 lugares, foi vendido em junho de
2022 por R$ 12,5 milhões por um empresário de Minas Gerais ao dono de uma rede
de farmácias em Fortaleza, Francisco Willame Santiago, e ao empresário de
Manaus, Alessandro Bronze Toniza.
Pouco depois, foi cedido de forma
onerosa à Rico Táxi Aéreo, também de Manaus.
Finalmente, em março deste ano, foi
adquirido pela Magic Aviation, presidida por Bruno Ferreira Vicente de Queiroz.
Cessna
Citation J2 (PT-FTC)
Vendido em setembro de 2023 a uma
empresa localizada na periferia de Imperatriz (MA), a Serveg Serviços LTDA, por
R$ 13,72 milhões. A empresa tem como dona Antônia Viana Silva Soares, que negou
conhecer tanto a firma quanto a aeronave em entrevista ao UOL.
Antes da Serveg, o avião pertencia ao
empresário Edison Tamascia, fundador da associação de drogarias Farmarcas.
Gulfstream G200 (PS-MRL)
Vendido em abril de 2025 pelo dono do
plano de saúde Samel, de Manaus, à empresa Rovaniemi Participações S.A., em
Fortaleza, pelo valor de US$ 4 milhões (R$ 21,2 milhões).
Aberta em junho de 2021, a Rovaniemi tem
capital social de apenas R$ 100. O diretor é o mesmo Bruno Ferreira Vicente de
Queiroz, também presidente da Magic Aviation. A sede da empresa é uma casa no
bairro Papicu, em Fortaleza.
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