Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), mais de 18 milhões de pessoas sofrem com transtornos de ansiedade no
Brasil, um desafio de saúde pública que cresce a cada ano.
O problema se agrava com a falta de
diagnóstico precoce. Atualmente, o País conta com apenas 6,6 psiquiatras para
cada 100 mil habitantes, número considerado insuficiente para atender a
demanda.
Antes de chegar ao psiquiatra, muitos
pacientes fazem uma verdadeira peregrinação por consultórios médicos e passam
pelas mãos de cardiologistas, ginecologistas, oftalmologistas e ortopedistas.
Segundo o psiquiatra Fernando Fernandes,
presidente do Conselho Científico da Associação Brasileira de Familiares,
Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), isso acontece porque os
sintomas da ansiedade e de outros transtornos mentais muitas vezes se
manifestam de forma física.“
Dor no peito, falta de ar, palpitação,
dor de cabeça ou problemas gastrointestinais são queixas frequentes. Esses
sinais acabam direcionando o paciente para diferentes especialidades, o que
mascara a origem psiquiátrica dos sintomas”, explica o médico.
Essa rota de atendimento contribui para
o atraso no diagnóstico. Estudos mostram que quase metade dos pacientes (45%)
convive por dois anos ou mais com os sintomas antes de receber o diagnóstico
correto, o que frequentemente leva a tratamentos inadequados.
Outro desafio apontado por Fernandes é a
formação médica. “Profissionais de outras áreas dificilmente recebem
treinamento suficiente para identificar transtornos mentais. Além disso, é
natural que, após anos dedicados a uma especialidade, o médico desenvolva
vieses cognitivos que influenciam o raciocínio clínico”, afirma.
Entre esses vieses, estão a tendência de
interpretar sintomas apenas dentro de sua área de atuação, o apego à primeira
hipótese diagnóstica e a supervalorização de doenças mais comuns em sua
experiência.
Para o especialista, é essencial médicos
e pacientes ficarem atentos aos sinais de transtornos mentais. “Não se trata de
exigir que todo médico se especialize em saúde mental, mas de reconhecer que o
corpo é um sistema integrado. O atendimento inicial, com escuta atenta e
encaminhamento adequado, faz toda a diferença para que o paciente chegue ao
tratamento correto”, destaca.
Segundo ele, uma abordagem
multidisciplinar é indispensável para enfrentar os desafios impostos pela saúde
mental no País. Estudos mostram uma redução das chances de remissão completa
dos distúrbios se há semanas ou meses de atraso entre o início de sintomas, o
diagnóstico e o tratamento adequado.
Procure ajuda médica o mais cedo
possível se tiver sinais persistentes que afetam seu dia a dia, como:
- Tristeza persistente, perda de
interesse, falta de ânimo e fadiga exagerada- Ansiedade excessiva, ataques de
pânico recorrentes ou preocupação que atrapalha trabalho e relacionamentos
- Mudanças profundas no sono ou no
apetite, isolamento social crescente, queda no rendimento escolar ou
profissional
- Alterações cognitivas (dificuldade de
concentração, confusão) ou alterações de humor extremas (altos e baixos
intensos)Procure ajuda imediata (pronto-atendimento ou serviços de emergência)
se houver:
- Pensamentos de morte ou suicídio,
ideação suicida ativa, planos ou tentativa- Alucinações persistentes (ouvir/ver
coisas que outros não percebem) ou crenças firmes claramente desconectadas da
realidade (delírios)
- Incapacidade de cuidar de si (não
comer, não se vestir, desorientação grave), descompensação muito rápida ou
comportamento perigoso/impulsivo (ex.: mania com risco)
- Intoxicação severa, abstinência grave ou risco imediato por automutilação ou violência.
Cláudia Duarte Cunha - Atribuna
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